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Projeto de Saúde Comunitária no Vale do Taquari (RS) é apresentado em congresso latino americano de gênero e religião
3 de setembro de 2021 Comunicação FLD

A experiência do Projeto Saúde Comunitária (PSC) do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA), núcleo Santa Cruz do Sul, foi apresentada no VII Congresso Latino Americano de Gênero e Religião, no dia 25 de agosto. A apresentação foi feita pelas assessoras técnicas Grasiela Michels e Liliane Driemeier, dentro do grupo de trabalho “Economia Solidária e Justiça de Gênero: reflexos na pandemia e resistência das mulheres da economia solidária nos territórios”. 

Assim como Grasiela e Liliane, outras mulheres do Brasil e da América Latina partilharam suas vivências, formas de organização, lutas e estratégias coletivas de resistência e superação de dificuldades, em especial no combate à fome. Elas mostraram alternativas de geração de renda por meio da economia solidária diante dos problemas e das desigualdades sociais aprofundadas pela pandemia da Covid-19.  

“Poder partilhar com as e os participantes do Congresso a experiência vivida no Vale do Taquari e a forma como as mulheres fazem e vivenciam a economia solidária das mais diferentes maneiras foi importante. Em um contexto tão adverso que passamos, as mulheres se organizam, persistem e transformam realidades, através do olhar e do compromisso com a dignidade humana de cada uma e cada um por meio da agroecologia, comida boa, direitos e resistência”, acentua Grasiela.  

Apresentação do trabalho realizado junto aos Grupos de Saúde Comunitária no Vale do Taquari durante o Congresso de Gênero e Religião

O PSC e as mulheres no contexto da pandemia

O Projeto Saúde Comunitária, no território do Vale do Taquari (RS), nasceu em 2003 a partir de parceria entre CAPA, Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e Sínodo Vale do Taquari. No início, eram oito grupos de mulheres da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE). Hoje o PSC está presente nos municípios de Cruzeiro do Sul, Teutônia, Paverama e Westfália, sendo composto por 24 grupos; 16 deles exclusivamente de mulheres. Nos demais grupos, participam mulheres, homens, crianças e jovens atendidos pelo Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) de Westfália e pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) de Teutônia.

A proposta da saúde comunitária está baseada na organização comunitária e social, sendo espaço de acolhimento, reflexões e formações acerca de segurança e soberania alimentar e nutricional, saúde preventiva e promoção da saúde. Segundo a técnica Grasiela Michels, a valorização e o resgate dos conhecimentos e das ancestralidades das mulheres sobre as plantas medicinais, cuidados com a vida, alimentação e saúde estão presentes nas atividades. Assim como as oficinas de farmácia caseira, oficinas de alimentação e as práticas agroecológicas, por meio de hortas, pomares, quintais e roçados. 

Organização e encontros pós-pandemia

Os encontros e as atividades ocorriam mensalmente ou bimensalmente com cada grupo. Mas, devido ao avanço da Covid-19, as atividades presenciais foram suspensas em março de 2020. Como forma de manter contato com as mulheres e entre as mulheres foram criados grupos de WhatsApp e realizadas reuniões virtuais onde não faltaram orientações de saúde, alimentação, plantas medicinais, artesanatos, entre outras. 

De acordo com Liliane Driemeier, este novo momento possibilitou muitas descobertas e aprendizagens, onde todas se desafiaram a conhecer e usar os meios virtuais. “As mulheres enviavam e trocavam informações sobre suas plantas, hortas, pomares, receitas de farmácia caseira e de alimentação. Por ali passavam também seus medos, angústias, alegrias… Houve muitas palavras de conforto e acolhimento entre as mulheres”. 

Outra percepção acerca da movimentação dos grupos foi de que as mulheres passaram a usar e se beneficiar mais ainda das plantas medicinais e consumo de alimentos orgânicos. “Algumas faziam xaropes, pomadas, tinturas para elas e suas famílias, gerando a economia do cuidado, a qual não é remunerada, mas que gera renda e saúde para a família. Essas mulheres também são referências em suas localidades em farmácia caseira, comercializando informalmente a quem procura”, complementa Grasiela. 

Alternativa de comercialização justa e solidária

Ainda no contexto restrito a formas de comunicação mediada pelas plataformas digitais, as mulheres estabeleceram um circuito de comercialização via WhatsApp. Começaram a fazer encomendas de produtos agroecológicos junto à Feira da Ecovale, a Cooperativa Regional de Agricultores Familiares Ecologistas do Vale do Rio Pardo. A iniciativa fortaleceu a feira, que havia sido paralisada, e contribuiu para a geração de renda das famílias agricultoras cooperadas. “As encomendas vêm sendo uma forma de comércio justo e solidário entre as mulheres do PSC e as agricultoras e agricultores da Ecovale”, ressalta Grasiela. 

Além disso, as mulheres se engajaram em diversas ações de ajuda humanitária em suas comunidades, doando alimentos, confeccionando roupas, arrecadando doações, preparando refeições e muito mais. “A pandemia afetou as reuniões presenciais, mas não impediu que as mulheres encontrassem canais para se comunicarem, praticarem e difundir a agroecologia”, conclui Liliane.

Edição de texto: Diangela Menegazzi
Imagens: Arquivo CAPA

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