Trabalho busca fortalecer as comunidades indígenas para a defesa de direitos e melhoria das condições de vida no Oeste do Paraná
Lideranças Avá Guarani da Terra Indígena Guasu Guavirá reuniram-se em Terra Roxa, Oeste do Paraná, nesta terça-feira (14). O encontro marcou o início do projeto Território Guavirá – Direitos e Agroecologia, que busca avançar na garantia do modo de vida Guarani, o Nhandereko.
Atividades de formação, plantio de alimentos e um diagnóstico sobre o acesso ao saneamento básico estão no escopo do projeto. Toda a população das aldeias em Guaíra e Terra Roxa, com atenção a jovens e mulheres, será beneficiada com a iniciativa.
O projeto é apoiado pela organização espanhola Manos Unidas e será desenvolvido ao longo de 2023 a partir de uma parceria entre o Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA), o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY).
“A nossa expectativa é que esse trabalho contribua com a organização interna de nossas comunidades, fortalecendo nossa cultura e a defesa de nosso território enquanto a demarcação de nossas terras não acontece”, afirmou o coordenador regional da CGY e uma das lideranças Avá Guarani, Ilson Soares.
Atividades de formação
Os Avá Guarani sofrem sistematicamente com o racismo na região Oeste do Paraná. A ideia de que “aqui não havia indígenas”, promovida pela branquitude local, tem causado sofrimento e mortes ao longo dos anos.
Há também negligência do Estado em atender direitos básicos, como acesso à alimentação adequada e água potável. “Estamos sempre vivendo o hoje como se fosse nosso último dia”, lamenta Ilson.
Para enfrentar esse contexto, serão desenvolvidas oficinas de formação e debates internos, com conteúdos voltados aos direitos humanos e ao conhecimento tradicional Avá Guarani, na presença de representantes jovens, mulheres, lideranças, anciãos e anciãs de todas as aldeias.
Para a jovem Vilma Rios, do Tekoa Y’Hovy, o envolvimento das pessoas jovens será fundamental. “As oficinas de formação proporcionarão um espaço de aprendizado e partilha de vivência entre gerações”, destacou.
Comida boa na mesa e acesso à água
Como forma de garantir a segurança alimentar e nutricional, e o reflorestamento de áreas degradadas, serão implantadas áreas para a produção agroecológica de alimentos. A definição das culturas e árvores a serem plantadas ainda será feita pelas comunidades, a fim de que a cultura e o resgate dos saberes ancestrais sejam preservados.
Durante esse encontro inicial, a cacique Nazani Martins, de 24 anos, da Tekoa Nhemboete, em Terra Roxa, defendeu que as áreas de plantio tenham o protagonismo das mulheres. Outras mulheres também usaram a palavra para ressaltar essa necessidade. Segundo ela, são as mulheres que cuidam das aldeias enquanto os homens são levados a saírem para as cidades em busca de emprego.
“Sabemos cuidar e preservar nossos costumes, mas precisamos de apoio”, reforçou Nazani. A escolha de que as áreas de plantio tenham o protagonismo das mulheres foi acatada pelas lideranças durante a reunião.
Além do plantio de alimentos, também será realizado diagnóstico sobre o acesso ao saneamento básico. Esse mapeamento das reais condições de acesso à água potável, tratamento de esgoto e resíduos sólidos subsidiará as lideranças Avá Guarani para cobrar do Estado, ou buscar outros apoios, para a solução do problema do saneamento.
Texto e fotos: Diangela Menegazzi