Uma caravana com 45 pessoas do Kilombo Rincão do Negros, em Rio Pardo (RS), participou do 5º Ipadê de Culinária Africana e Kilombola. O evento ocorreu no Kilombo do Algodão, município de Pelotas (RS), entre os dias 3 e 5 de junho, e integrou a programação da Semana do Alimento Orgânico deste ano.
As duas comunidades kilombolas se reuniram no dia 4 de junho. O encontro começou pela Feira Kilombola Akotirene, primeira agroecológica kilombola da região Sul do Estado, no centro de Pelotas. O grupo visitante conheceu o espaço e dialogou com as pessoas que o realizam. Já no local do 5º Ipadê, teve roda de conversa, fortalecimento da identidade kilombola, da cultura kilombola e africana, da religião, das plantas, dos alimentos. Teve também teve preparo de receitas, como canjiquinha com costelinha de porco, sopão com carne de cordeiro, feijão, quibebe, canjica branca com coco, bolo frito sovado e outras delícias da cozinha kilombola e africana.
O intercâmbio entre as duas comunidades kilombolas durante o Ipadê é resultado do projeto Promoção de Soberania, Segurança Alimentar e Nutricional, Saúde e Geração de Renda, com comunidades e famílias em vulnerabilidade, desenvolvido pela Fundação Luterana de Diaconia – Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (FLD-CAPA) e apoiado pela IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil).
Um encontro cheio de significados
Para a presidenta da associação do kilombo Rincão dos Negros, Joelita David Bitencourt, foi importante conhecer outro kilombo, saber das suas lutas, revindicações, conquistas e espiritualidade. “Foi lindo de ver os mais velhos, com mais de 80 anos, contando suas vivências e histórias, fortalecendo e chamando os mais novos a buscar condições melhores de vida para o povo kilombola. Nos reconhecemos como parte daquele grupo, sendo todas e todos irmãos e fortalecendo a nossa identidade kilombola”.
O jovem kilombola e estagiário do CAPA Santa Cruz pela EFASC (Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul), Artur José da Rosa Lima, disse que “foi bom poder conhecer a comunidade do Algodão, ver o sistema de produção, incluindo a adubação, as verduras que cultivam e comercializam na feira, ouvir suas músicas, escutar sobre sua religião e poder degustar sua culinária maravilhosa cheia de significados.”
Seu Adair David, liderança importante no processo de reconhecimento legal do Kilombo Rincão dos Negros, também participou e disse ter sido muito bom pois reencontrou “irmãos de luta” quando estavam em processo de reconhecimento dos territórios kilombolas no estado do Rio Grande Do Sul. Ressaltou também que muito se alegra em ver que a comunidade do Algodão está bem e unida.
Segundo a coordenadora do CAPA Santa Cruz, Melissa Lenz, o CAPA Santa Cruz entende que é fundamental proporcionar essa vivência às comunidades kilombolas para que se fortaleçam e se reconheçam. “O povo kilombola é guerreiro e queremos caminhar juntos na luta de seus direitos e buscar o reconhecimento da importância de seu legado neste território”.