As equipes de FLD-CAPA Erexim, Verê e Rondon e agricultoras e agricultores agroecologistas do Alto Uruguai e Sudoeste do Paraná participaram do 3º Encontro Estadual do Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) e grãos em Xanxerê, Santa Catarina, entre os dias 3 e 4 de maio.
O SPDH se consolidou como método de transição para um novo modo de produção ao longo de 30 anos de trabalho e se baseia em dois eixos fundamentais: o político-pedagógico, caracterizado pela construção social de conhecimentos para transformar a realidade, e o eixo técnico-científico, cujo ponto norteador é a saúde da planta.
Durante os dois dias de encontro – com muita chuva, mas acalorado por debates construtivos – as pessoas participantes acumularam na bagagem da agricultura familiar e camponesa elementos e ferramentas para a ação agroecológica em suas unidades de produção e nos espaços da Rede Ecovida.
Marcelo Valmorbida, cooperado da cooperativa Nossa Terra, que atua no Alto Uruguai Gaúcho, disse que as técnicas compartilhadas no encontro são aplicáveis à sua realidade.
“Não só pode ser utilizada para hortaliças como para todos os demais cultivos agrícolas, especialmente os de produção de base agroecológica, em transição ou mesmo para os que queiram reduzir custos e melhorar a fertilidade do solo. É uma metodologia inovadora, para o fortalecimento da agricultura familiar e para a transição para a agroecologia”, disse o agricultor.
Solo vivo, alimento sadio
Para João Daniel Wermann Foschiera, engenheiro agrônomo do CAPA Erexim, o espaço trouxe diversas reflexões e desafios ao manejo nas unidades de produção agroecológica. “Os bons desafios no campo da produção compreendem cada vez mais o solo como um organismo vivo e a unidade de produção como um agroecossistema que necessita de todos os cuidados necessários para uma relação completa entre as pessoas e a natureza”, ressaltou.
Foschiera destacou ainda que as questões discutidas e o conhecimento construído durante os dois dias de encontro do SPDH dialogam com as reflexões e palavras do agrofilósofo Masanobu Fukuoka que suscitou o debate “A Revolução de Uma Palha”. Nesta obra o autor relata métodos de manejo do sistema que possam interferir o mínimo possível no espaço natural e tem como um dos principais aliados nesse processo a manutenção de palha em todos os cultivos da unidade de produção, uma agricultura natural com o mínimo de manejo possível.
Articulação em prol do SPDH e da Agroecologia
Segundo José Antônio Louzada, coordenador do CAPA Erexim, o encontro se destacou pela busca da articulação entre organizações e movimentos sociais, como a Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) e a Fetraf/SC (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul), para avançar com o método do SPDH.
“Um instrumento para avanço da transição agroecológica e da agroecologia e com possibilidades de construir com as pessoas do campo um processo de transformação do espaço rural”, destacou.
A FLD-CAPA foi convidada a compor o coletivo de organizações e entidades que se articulam para o desenvolvimento e implementação do SPDH, na perspectiva de massificar experiências e constituir uma dinâmica de trabalho que ultrapasse de forma mais intensa as divisas do Estado de Santa Catarina.
Ao participar da mesa redonda de avaliação e encerramento do evento, Luiz Carlos Hartmann, engenheiro agrônomo da FLD-CAPA Rondon, mencionou alguns desafios e perspectivas de atuação para o próximo período. Entre eles, iniciativas articuladas em nível local e regional para institucionalização de políticas públicas e legislações adequadas ao desenvolvimento da agroecologia e promoção de processos de cooperação para organização produtiva e de mercados.
No Sudoeste do Paraná
De acordo com a coordenadora do CAPA Verê, Talita Kutz, na região Sudoeste do PR, a UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Campus de Pato Branco, é a agente que desenvolve trabalhos em torno do desenvolvimento do SPDH.
“Participar do encontro em Xanxerê abriu a oportunidade da construção de novas parcerias e diálogos em torno do avanço na transição agroecológica baseada na adoção do Sistema na região. Além de que, a participação de jovens agricultores que recebem nossa assessoria reforça a promoção de debates em futuras formações coletivas nos territórios de atuação”, explicou Kutz.