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Agrofloresta, trabalho coletivo e feira de alimentos agroecológicos em Sananduva (RS)
19 de maio de 2022 Diangela Menegazzi

CAPA Erexim promove intercâmbio na região do Alto Uruguai em que famílias compartilham conhecimentos e sabores da terra

O roteiro começou com a visita a uma Agrofloresta, passou pelo espaço gastro-cultural Utopia e terminou na sede da Coopvida (Cooperativa de Produtores de Alimentos Orgânicos em Economia Solidária). O caminho entre produzir, consumir e comercializar alimentos saudáveis foi especialmente preparado para animar as 44 pessoas que participaram do intercâmbio de conhecimentos e práticas agroecológicas em Sananduva (RS), na região do Alto Uruguai, no dia 11 de maio. 

A atividade promovida pelo CAPA Erexim buscou contemplar experiências prósperas de produção e relações comerciais solidárias. Ela é parte do projeto Promoção de Soberania, Segurança Alimentar e Nutricional, Saúde e Geração de Renda, com comunidades e famílias em vulnerabilidade, apoiado pela IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil).

“A cooperação está no centro. Tanto no âmbito da produção, a partir das relações ecológicas que ocorrem entre pessoas agricultoras e natureza nos sistemas agroflorestais, quanto nas relações entre as famílias em suas dinâmicas de organização e comercialização”, destacou Martin Witter, engenheiro agrônomo do CAPA Erexim. 

Segundo Witter, a diversidade do grupo de visitantes foi importante para o aprendizado coletivo. Entre as pessoas participantes estavam famílias do distrito de Capo-Erê, agricultoras e agricultores de grupos da Rede Ecovida, mulheres indígenas da comunidade Guarani Arandú Verá, a pastora Alice Liane Klostermeyer Griebeler, da Paróquia da IECLB de Erexim, a assistente social Inajara Dias e a pedagoga Iandra Miozzo, ambas da Secretaria de Assistência Social de Erexim. 

“As famílias de Capo-Erê puderam pensar em propostas para serem desenvolvidas no próprio território, já que a maioria das pessoas da comunidade tem proximidade com a agricultura. Essas propostas podem contribuir no caminho para a alimentação saudável, a segurança alimentar e para o fortalecimento dos vínculos comunitários e sociais”, disse a assistente social Inajara Dias. 

Agrofloresta do Sítio Dossel

O Sítio Dossel, da família do Josué Gregio, é uma unidade de produção de cerca de cinco hectares em que, em três deles, vem sendo desenvolvido trabalho de produção ecológica a partir de Sistemas Agroflorestais. 

As principais técnicas do Sistema Agroflorestal, também conhecido como SAF, consistem em manter o solo sempre coberto, para manutenção de um solo vivo, fazer o plantio adensado e consorciado entre espécies de plantas, estratificar as plantas para garantir luz adequada a cada espécie e realizar podas, que contribuem para a cobertura do solo e estimulam a brotação e o crescimento da agrofloresta. 

No SAF do Sítio Dossel, as pessoas visitantes puderam observar como esses conceitos se aplicam na prática. Segundo o engenheiro Martin Witter, o grupo se desafiou a desconstruir suas visões de produção em sistemas simples e fez muitas perguntas ao Josué. O camponês comercializa sua produção agroflorestal na feira ecológica Pé na Terra, que ocorre semanalmente na Utopia Gastronomia. 

Experiência gastro-cultural 

A Utopia Gastronomia foi justamente a parada seguinte do grupo, para experimentar os sabores da floresta. O espaço é referência cultural e de sabores em Sananduva. A comida feita lá utiliza, em grande parte, ingredientes da produção das famílias agricultoras, como a do Josué. 

Daniel Leite de Oliveira, um dos proprietários do espaço, contou às pessoas intercambistas que os pratos também são pensados conforme a sazonalidade da produção de alimentos e que dá preferência para fornecedores menos capitalizados, para fortalecer as relações de economia local e justa. 

Última parada: feira agroecológica

Mel, plantas e preparados medicinais, feijões coloridos, pipoca crioula, farinhas de espécies diversas, são apenas alguns dos produtos comercializados na feira e loja da Coopvida, na área central de Sananduva. A parada garantiu muito conhecimento agroecológico e salada fresquinha para levar pra casa.

Paulo Antonio Pastorello, agroecologista da Rede Ecovida e um dos coordenadores da Coopvida, falou da história e dos desafios da cooperativa e também de como é organizada a feira, duas vezes por semana. Hoje a Coopvida é composta por cerca de 80 famílias.

“Os produtores levam e expõem seus produtos de forma compartilhada e os frequentadores escolhem seus produtos e acertam no final. A cada dia de feira, duas famílias ficam responsáveis por receber os pagamentos e fazer a gestão. Assim, a demanda de trabalho na comercialização diminui e se fortalecem laços de confiança e cooperação”, explicou o agricultor agroecologista. 

Fotos: Arquivo CAPA