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Tem início projeto Direitos e Agroecologia na Terra Indígena Guasu Guavira
15 de fevereiro de 2023 Diangela Menegazzi

Trabalho busca fortalecer as comunidades indígenas para a defesa de direitos e melhoria das condições de vida no Oeste do Paraná

Lideranças Avá Guarani da Terra Indígena Guasu Guavirá reuniram-se em Terra Roxa, Oeste do Paraná, nesta terça-feira (14). O encontro marcou o início do projeto Território Guavirá – Direitos e Agroecologia, que busca avançar na garantia do modo de vida Guarani, o Nhandereko. 

Atividades de formação, plantio de alimentos e um diagnóstico sobre o acesso ao saneamento básico estão no escopo do projeto. Toda a população das aldeias em Guaíra e Terra Roxa, com atenção a jovens e mulheres, será beneficiada com a iniciativa. 

O projeto é apoiado pela organização espanhola Manos Unidas e será desenvolvido ao longo de 2023 a partir de uma parceria entre o Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA), o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY). 

“A nossa expectativa é que esse trabalho contribua com a organização interna de nossas comunidades, fortalecendo nossa cultura e a defesa de nosso território enquanto a demarcação de nossas terras não acontece”, afirmou o coordenador regional da CGY e uma das lideranças Avá Guarani, Ilson Soares.

Toda a população das aldeias em Guaíra e Terra Roxa, com atenção a jovens e mulheres, será beneficiada com a iniciativa

Atividades de formação 

Os Avá Guarani sofrem sistematicamente com o racismo na região Oeste do Paraná. A ideia de que “aqui não havia indígenas”, promovida pela branquitude local, tem causado sofrimento e mortes ao longo dos anos. 

Há também negligência do Estado em atender direitos básicos, como acesso à alimentação adequada e água potável. “Estamos sempre vivendo o hoje como se fosse nosso último dia”, lamenta Ilson. 

Para enfrentar esse contexto, serão desenvolvidas oficinas de formação e debates internos, com conteúdos voltados aos direitos  humanos e ao conhecimento tradicional Avá Guarani, na presença de representantes jovens, mulheres, lideranças, anciãos e anciãs de todas as aldeias. 

Para a jovem Vilma Rios, do Tekoa Y’Hovy, o envolvimento das pessoas jovens será fundamental. “As oficinas de formação proporcionarão um espaço de aprendizado e partilha de vivência entre gerações”, destacou.

“As oficinas de formação proporcionarão um espaço de aprendizado e partilha de vivência entre gerações”, destacou a jovem Vilma Rios

Comida boa na mesa e acesso à água

A cacique Nazani Martins destacou o protagonismo das mulheres na produção de alimentos

Como forma de garantir a segurança alimentar e nutricional, e o reflorestamento de áreas degradadas, serão implantadas áreas para a produção agroecológica de alimentos. A definição das culturas e árvores a serem plantadas ainda será feita pelas comunidades, a fim de que a cultura e o resgate dos saberes ancestrais sejam preservados. 

Durante esse encontro inicial, a cacique Nazani Martins, de 24 anos, da Tekoa Nhemboete, em Terra Roxa, defendeu que as áreas de plantio tenham o protagonismo das mulheres. Outras mulheres também usaram a palavra para ressaltar essa necessidade. Segundo ela, são as mulheres que cuidam das aldeias enquanto os homens são levados a saírem para as cidades em busca de emprego. 

“Sabemos cuidar e preservar nossos costumes, mas precisamos de apoio”, reforçou Nazani. A escolha de que as áreas de plantio tenham o protagonismo das mulheres foi acatada pelas lideranças durante a reunião.

Além do plantio de alimentos, também será realizado diagnóstico sobre o acesso ao saneamento básico. Esse mapeamento das reais condições de acesso à água potável, tratamento de esgoto e resíduos sólidos subsidiará as lideranças Avá Guarani para cobrar do Estado, ou buscar outros apoios, para a solução do problema do saneamento. 

Texto e fotos: Diangela Menegazzi