Arroio do Padre/RS – Através da Chamada Pública de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco, o CAPA (Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia) criou nos municípios de Arroio do Padre e Pelotas (RS), um programa próprio de ‘troca troca’ de sementes, a partir de 29 variedades de feijão.
Essa ação surge a partir de uma iniciativa para diversificar e qualificar a produção de alimentos nas propriedades, e também introduzir novas variedades que não eram cultivadas por famílias atendidas pelo CAPA.
Márcio Morales, engenheiro agrônomo do CAPA que assessora as famílias no município de Arroio do Padre conta que a ideia foi incentivar o cultivo de feijão e oferecer o máximo de variedades possíveis para resgatar àquelas que as famílias já conheciam ou ainda introduzir novas. “Buscando diversificar a produção para além do tabaco e sendo o feijão a base da alimentação da maioria das famílias brasileiras, seja na zona urbana como na rural, a ideia foi incluir nesse universo algumas variedades de feijão que não existiam na localidade”, conta Márcio.
As sementes foram adquiridas em pequenas quantidades, com aporte do CAPA, de outra famílias agricultoras do município de Piratini, durante a feira do feijão orgânico. A partir daí 29 variedades de feijão foram introduzidas no município do Arroio do Padre e na localidade vizinha de Santa Silvana, interior de Pelotas através do sistema conhecido como ‘troca, troca’ na proporção de 1 para 3, ou seja, para cada quilo de sementes recebidas as famílias devolvem 3 que serão entregues para novas famílias.
De acordo com Morales o programa tem sido um sucesso, tanto pela adesão de grande parte das famílias assistidas, como pela produtividade que elas alcançaram. “A maioria das famílias com as quais trabalho aceitou a proposta de produzir novas variedades de feijão e durante esses dois anos em que estamos desenvolvendo o programa uma grande parcela conseguiu devolver as sementes. Algumas tiveram perdas por questões climáticas, mas ainda assim, a quantidade e a variedade dessas sementes têm aumentado”, completa.
Um outro ponto que Márcio destaca é que as agricultoras e os agricultores sabem reconhecer algumas variedades de feijão que eles já nem tem mais no município. “Uma família recebeu uma variedade de feijão e disse que conhecia, que ele era muito antigo e muito comum na região há algumas décadas. Era o feijão Tupi. Então junto com o resgate da variedade, temos também o resgate histórico, que é muito importante”, explica
Para fortalecer ainda mais a iniciativa, foram implantadas unidades demonstrativas. Em uma delas, a família plantou 18 variedades em pequenas parcelas e na outra, o agricultor plantou 25 variedades, fazendo avaliações de comportamento perante o clima, produtividade, incidência ou não de doenças e também para conseguir manter e multiplicar os feijões.
Hoje, depois de dois anos, além de conhecerem novas variedades e reconhecerem algumas que já não existiam na região, as famílias conseguem também identificar as características do feijão e optar por aquelas que melhor atendem as suas necessidades, seja para o próprio consumo ou mesmo para comercializar o excedente.
No primeiro ano, 22 famílias participaram do programa ‘troca troca’, já no segundo foram 38. “Hoje podemos dizer que a diversidade de feijão na região de Arroio do Padre é muito diferente do que há dois anos, quando o número de variedades era muito menor”, comemora Márcio.
As variedades que integram o programa são agudo, amarelinho, amendoim, azulão, branquinho, branco redondo, capixaba, carioca riscado, carioca pintado, carioca vermelho, chocolate, BRS expedito, guapo brilhante, BRS intrépido, fepagro 21, iraí, macanudo, macotaço, milico, manteiga, mourinho, mouro, mocotó, pinheiro, pinhão, pitanga, português, taura e tupim.