Berlim/Alemanha – “Durante a minha mais recente viagem de trabalho ao Brasil, visitando o Paraná e o Rio Grande do Sul, pude verificar o poder do agronegócio na região. Agricultoras e agricultores familiares estão sendo intimidados para saírem de suas terras, e as escolas agrícolas locais correm o risco de serem fechadas, por razões políticas.
Neste ambiente ameaçador, é de extrema importância criar espaços de resistência, que trabalham ideias e conceitos de justiça, como o da Agroecologia. Desde a sua fundação, o CAPA, uma organização de base no contexto da Igreja, atua junto com pessoas que, ao mesmo tempo em que produzem e fornecem alimentos saudáveis para as pessoas, preservam a terra e a natureza.
O CAPA iniciou seus trabalhos com recursos modestos, nos anos 80, na área de assistência técnica para produção. Desde então, ampliou o seu trabalho com o fortalecimento da sua representação em coletivos, como o Movimiento Agroecológico de América Latina y el Caribe (Maela), Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) e em conselhos de segurança alimentar. Há alguns anos, passou a atuar junto a comunidades indígenas, quilombolas e assentados da reforma agrária. Famílias agricultoras ampliaram seus horizontes, adquiriram maior saber na área de direitos e da soberania alimentar e nutricional e se aliaram a associações cooperativas.
Em 2015, PPM escolheu o CAPA como projeto modelo, para ilustrar sua campanha Não basta saciar a fome, com foco na alimentação sadia, sobretudo em creches, escolas e outros estabelecimentos sociais. Mas além disso, a campanha mostrou os resultados do trabalho de famílias agricultoras parceiras do CAPA, desde a produção e colheita dos alimentos, passando pela comercialização e o fornecimento, até os produtos chegarem à mesa. A campanha mostrou a consumidoras e consumidores alemães e de outros países um exemplo de comida boa na mesa, com um grande diferencial, social e ecológico.
No Brasil, desde 2016, a situação política se agravou de forma dramática. O desmonte do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e de seus programas de fomento coloca em perigo a continuidade e o alcance de um trabalho agroecológico nos moldes atuais. PPM tem expectativa da criação de alianças políticas, para a formação de estruturas de redes entre organizações parceiras e a igreja luterana, incluindo a aliança entre populações rural e urbana, para defender e continuar o trabalho a partir do conceito da Agroecologia.
Neste espírito queremos continuar a ser aliados fieis e felicitamos o CAPA pelo aniversário dos 40 anos, desejando a continuidade de muito êxito.
Mathias Fernsebner, Oficial de Programa para o Brasil de Pão para o Mundo