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Sinal de ânimo e esperança
15 de agosto de 2018 zweiarts
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Lajeado/RS – Quarenta anos de presença e atuação do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA) merecem ser celebrados com muita alegria, orgulho e profunda gratidão. Não dá para imaginar a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), em todos os seus níveis e nos tantos avanços ecumênicos, sem a presença do CAPA. É referencial ecumênico e apaixonado serviço, especialmente junto aos pequenos, fracos e esquecidos. É sinal de ânimo e esperança.

Essa celebração é também oportunidade especial de “olhar no retrovisor” da história.

Não é o que todo condutor responsável deveria fazer para garantir uma viagem segura em direção ao objetivo?

Como um dos protagonistas do CAPA, optei, nessa minha humilde contribuição, lembrar, recuperar alguns momentos marcantes dessa sua grata história. Quem sabe momentos até já esquecidos, nem mais lembrados, mas importantes e significativos com vistas aos novos desafios. Importa, pois perguntar: Quem somos? De onde viemos? O que nos identifica? Qual a nossa identidade? Perguntas que igualmente fazem parte da nossa vida!

No espaço que me é dado devo, naturalmente, limitar a minha olhada no retrovisor, até para não correr o risco de perder o presente e o avanço para frente.

1. No período do Regime Militar, ou seja, da Ditadura, somos surpreendidos com uma nefasta revolução na política agrícola. Era a época do milagre verde, brasileiro, do boom da soja, tudo voltado para a exportação. Em consequência direta acontece a maior concentração de terra na mão de poucos e o avanço do êxodo rural. Muitos membros da IECLB, mormente pequenos agricultores, perdem suas terras e o seu habitat. Produz-se empobrecimento e desespero no campo. Alguns se tornam empregados nas grandes propriedades, mas a maioria migra para os grandes centros urbanos na busca por sobrevivência. Acontece o inchamento das periferias e a perda da dignidade, dos valores culturais, religiosos e sociais.

2. Nesse contexto, surge o CAPA (na época, denominado Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor), inicialmente na Região Eclesiástica III da IECLB, em Santa Rosa (RS). Isso se dá nos dias 17 e 18/05/1978, liderado pelo Agr. Élio Musskopf. Infelizmente essa proposta teve que encerrar sua atividade entre os anos 82-83, por falta de apoio e sustentação financeira.

3. No entanto, a ideia do CAPA, como ferramenta da fé a serviço da agricultura familiar, não morreu. Inspirou-nos na RE IV (Região Eclesiástica IV), com sede em São Leopoldo (RS). Após estudos, debates em todos os níveis, com participação dos membros das comunidades e pequenos agricultores, foi elaborada a moção da criação do CAPA RE IV. O CAPA que hoje se chama ”Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia” é, em certo sentido, resultado da aprovação da Moção número 4 no Concílio da então RE IV, em 1981. Logo se abriu a candidatura para essa vaga. Com muita liberdade e gratidão digo que o recém formado Eng. Agron. Elemar Wojahn a ela se candidatou e foi eleito. Assim o CAPA e seu coordenador foram instalados em julho de 1982. Os objetivos básicos definidos em moção para a atuação do CAPA foram os seguintes:” – Fixação do agricultor à terra; – Conscientização e valorização do pequeno agricultor em termos de dignidade e importância; – Conscientização em torno da função social da terra como produtora de alimentos básicos e sadios para o povo; – Desenvolvimento de projetos viáveis e concretos de uma agricultura alternativa, com vistas à preservação da terra e meio ambiente; –  Promoção da união dos pequenos agricultores no espírito de um autêntico movimento sindicalista e cooperativista com vistas à produção, comercialização e reivindicação de preços justos, crédito fundiário, acesso à terra e realização da Reforma Agrária..

4. Nesse mesmo ano, nos dias 20 a 24 de outubro, a IECLB realizou seu Concílio Geral em Hamburgo Velho (RS), sob o tema: ”Terra de Deus- Terra para todos”, orientado pela lema do Salmo 24,1: ”Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nela habitam”. Esse tema e lema da IECLB em 1982 foi oportuno. Significou clara e concreta orientação teológica e prática para a caminhada do CAPA nas comunidades da IECLB e além delas. Significou período de intensos contatos e atividades do CAPA. No Plano de Ação da RE IV de 1982 assim se traduz esse período:” Agricultores, movidos pelo Evangelho, reúnem-se, apoiam-se mutuamente, debatem os seus problemas e procuram soluções em conjunto” (Pg.8).

5. Logo se percebeu a necessidade de abrir o horizonte da ação do CAPA para melhor corresponder às expectativas. Concretamente urgia ampliar a equipe de atuação para melhor investir em formação através de seminários, pastorais e práticas concretas. No entanto, havia um sério problema, ou seja, como financiar os custos. Até então o CAPA dependia de recursos do orçamento da RE IV e das ofertas dos cultos comunitários. Assim nascia o Capa na simplicidade e na paixão pela causa.

6. Parece que Deus gostava e continua gostando tanto do CAPA que ouviu nossas orações e atendeu as súplicas. Pois certo dia recebi, na Sede da Região, a visita do representante da LCA (Lutheran Chuch of America), na pessoa do Pastor David Nelson. Interessou-se pelo projeto, melhor, apaixonou-se pela causa. Perguntou-me:” O que necessitam para tocar o projeto adiante?” Respondi:” Se alguém nos doasse 50 mil dólares poderíamos avançar”. Prontamente acolheu a proposta. Somente pediu que lhe encaminhássemos o assunto por escrito.

7. Em pouco tempo recebemos a resposta afirmativa e o respectivo depósito em favor do CAPA RE IV da IECLB. Foi graça divina. Oportunizou a ampliação da equipe com a contratação da Eng. Agr. Rita Surita, do Agr. Geraldo Fensterseifer e, um pouco mais adiante, de Sighard Hermany. No mesmo ano de 1983, o CAPA pode ser localizado em Arroio do Tigre (RS), no Centro de Assistência Rural da Comunidade Evangélica Luterana. Com a comunidade se estabeleceu um convênio a respeito. Em reuniões periódicas discutiam-se, entre as partes, os planos, metas e necessidades. Representou um período muito intenso em atividades, rico em encontros, seminários com pequenos agricultores e cursos de formação na área da Pastoral Rural.

Evidente que não faltaram conflitos e algumas tensões com a própria comunidade e, especialmente, com os poderes políticos locais por causa da ação do CAPA em favor dos pequenos agricultores e da Reforma Agrária. Algumas vezes a intermediação do Pastor Regional se fazia necessária. Mesmo assim, foi um período muito abençoado em termos de ações práticas e experimentais, de reflexão e recriação diante dos novos desafios que se descortinavam  diante da equipe e do próprio Conselho do Capa,que havia sido constituído.

8. Bem, poderia lembrar várias conquistas e avanços extraordinários do CAPA nos seus cinco Núcleos, ou Consórcio, nos próximos tempos até hoje. Deixo isso para um outro momento e aos mais próximos dessa época. Minha contribuição foi a de buscar e resgatar elementos da história passada do CAPA. Pois sei que qualquer organização, mesmo pessoa, que não lembrar o seu passado, sem estar com os pés firmes no presente, não conseguirá projetar bem o futuro.

9. Congratulo-me com todos/as que fizeram e fazem parte da equipe do CAPA, pela sua opção e paixão em favor dessa causa tão nobre e digna. Tomo, nesse contexto, a liberdade em destacar, na Celebração dos 40 anos,a extraordinária dedicação, contribuição amorosa e qualificada do amigo e colega de caminhada Eng. Agr. Elemar Wojahn.  Permaneço com o sentimento de alegria e gratidão pelos 40 anos do CAPA.

 Pastor Huberto Kirchheim

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