Micael Eliabe, comunicador Guarani e membro do coletivo Djagwa Etxa, apresentará o podcast na reunião em Paris.
POR COMUNICAÇÃO DA FLD
O Projeto OPANÁ: Chão Indígena estará representado na reunião multissetorial sobre Povos Indígenas e Mídia, na sede da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, através da apresentação do podcast produzido pelo coletivo de comunicadoras e comunicadores indígenas Djagwa Etxa em parceria com o G20 Brasil. O evento acontece nos dias 26 e 27 de novembro, na França, em Paris, e tem como objetivo a preparação de um estudo sobre o tema.
O encontro irá reunir organizações de mídia indígenas e não indígenas, incluindo emissoras públicas, reguladores de mídia, mídia privada e comunitária, além de acadêmicas e acadêmicos e representantes de entidades vinculadas à ONU – Organização das Nações Unidas. O podcast do projeto OPANÁ será apresentado pelo comunicador indígena e membro do coletivo Djagwa Etxa, Micael Eliabe, da comunidade Tekoha Nara’i, Terra Indígena Laranjinha, localizada no norte do Paraná.
A reunião da UNESCO atende recomendação do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas a realizar tal estudo em parceria com os povos indígenas e entidades ligadas à ONU. No encontro, parceiras e parceiros irão discutir o desenvolvimento de mídias livres, independentes e pluralísticas para promover o direito à liberdade de expressão e acesso à informação.
Podcast em parceria com o G20
Desde março deste ano, o coletivo Djagwa Etxa trabalha na produção de podcast em parceria com o G20 Brasil, com o objetivo de produzir boletins de rádio na língua indígena Guarani para disseminar informação e ser uma forma de consolidar a cultura oral do povo Guarani.
O coletivo é responsável pelas traduções e produção dos boletins em Guarani, com conteúdo jornalístico produzido pela comunicação do G20 Brasil. A distribuição é gratuita para emissoras de rádio no Brasil e no exterior. Os boletins estão disponíveis nos sites Rádio Gov, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), e no site g20.org, do G20 Brasil.
O coletivo Djagwa Etxa, que significa “olhar da onça”, um dos animais sagrados dos povos originários e que cuida das matas, é formado por jornalistas e comunicadoras e comunicadores indígenas dos povos Guarani e Kaingang da Terra Indígena Laranjinha (PR). Surgiu em 2023 durante o Acampamento Terra Livre (ATL), a maior assembleia dos povos indígenas realizada, desde 2004, no mês de abril, em Brasília (DF).
Micael explica que o surgimento do coletivo partiu da necessidade em dar visibilidade às línguas indígenas brasileiras. Para o comunicador, o convite para produzir e gravar conteúdos para o G20 é uma oportunidade para preservar culturas, tradições e conhecimentos ancestrais. “É uma maneira de valorizarmos e fortalecermos nossas línguas, o seu uso e, ao mesmo tempo, estamos contribuindo para o desenvolvimento de habilidades linguísticas e comunicativas dos indígenas que estão envolvidos no projeto”, considera.
Sobre o convite em participar do encontro na França, Micael diz que está muito otimista e feliz pela oportunidade de apresentar o trabalho de comunicadoras e comunicadores indígenas do sul do Brasil para o mundo. “Este é um evento que mostra que estamos no caminho certo e que têm pessoas de olho nos nossos trabalhos. Teremos mais visibilidade para os povos indígenas do sul do país”, afirma.
A reunião da UNESCO é um evento que irá mobilizar comunicadoras e comunicadores de todo o mundo para o debate sobre uma participação mais ampla de comunidades originárias na produção de conteúdo midiático. Para Micael, é uma oportunidade que pode abrir portas para novos projetos e fortalecimento das culturas originárias: “Mostrar para o mundo a cultura indígena do país. Um pouquinho de toda diversidade das culturas indígenas do Brasil”, conclui.
Sobre o estudo Povos Indígenas e a Mídia
O estudo sobre os Povos Indígenas e a Mídia pretende propor recomendações concretas para a realização do direito dos povos indígenas de estabelecerem suas próprias mídias, reforçando a importância das obrigações dos Estados e da mídia convencional em proporcionar acesso a todas as formas de mídia sem discriminação.
Desde 2023, a UNESCO tem um Grupo de Trabalho que debate este estudo e, desde a formação deste grupo, já organizou uma série de consultas com os povos indígenas, entidades ligadas à ONU, setores de mídia, sociedade civil e o público em geral para estabelecer os parâmetros para as ações a serem tomadas.
No encontro, com o objetivo de desenvolver o estudo, irá se observar políticas, práticas e programas para o desenvolvimento de mídias independentes lideradas por indígenas como atores legítimos em um cenário midiático pluralista e diversificado, visando fortalecer as vozes dos povos indígenas e seu direito à liberdade de expressão, acesso à informação e participação significativa na sociedade, engajamento com diálogo aberto e compartilhamento de conhecimento entre mídias lideradas por indígenas e não indígenas, e a produção de conteúdo cultural e linguisticamente relevante.
Também se pretende propor estratégias de colaboração entre mídia indígenas e não indígenas e incentivar executivas e executivos de mídia a adotarem políticas de trabalho mais inclusivas para profissionais indígenas e recomendar estratégias para futuras ações a serem implementadas conforme a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (UNDRIP).
O marco fundador para a liberdade de expressão e o desenvolvimento da mídia está na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela ONU em 1948. Porém, o direito dos povos indígenas de estabelecer e gerenciar suas próprias mídias foi reconhecido somente em 2007, embora as mídias estabelecidas e geridas por povos indígenas já tenham uma longa história.
OPANÁ: Chão Indígena
O podcast na língua indígena Guarani faz parte do OPANÁ: Chão Indígena, projeto da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), por meio do Programa CAPA em parceria com a Itaipu Binacional. O projeto tem como foco a segurança alimentar às comunidades indígenas com base na agroecologia, o acesso ao saneamento e água potável, além do fortalecimento cultural. Atua com as comunidades Guarani localizadas no Oeste e Litoral do Paraná, atendendo um total de 32 comunidades do povo Avá Guarani e Guarani Mbya, distribuídas em dez municípios paranaenses.
Entre as ações do projeto, está a produção de podcasts que tratam de temas sobre segurança alimentar, segurança hídrica e combate ao racismo. Paulo Porto, gestor do Programa de Sustentabilidade Indígena da Itaipu Binacional, avalia que o convite para participar no evento junto à UNESCO demonstra a relevância de programas que fortaleçam comunidades originárias.
Jhony Luchmann, coordenador do projeto OPANÁ, observa que a ação complementa um conjunto de atividades que estão sendo executadas para que políticas públicas cheguem às comunidades Guarani do Oeste e do Litoral do Paraná e proporcionem qualidade de vida e dignidade para todas as pessoas. “É a presença do Estado através de uma parceria que tem experiência e condições técnicas de executar estas políticas públicas”, afirma.