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11ª Feira de sementes propicia a manutenção da biodiversidade e de conhecimentos tradicionais

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11ª Feira de sementes propicia a manutenção da biodiversidade e de conhecimentos tradicionais
13 de outubro de 2023 Rocheli Wachholz

Nos dias 07 e 08, o programa CAPA núcleo Pelotas (RS), da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), participou da 11ª edição da Feira Estadual de Sementes Crioulas e Tecnologias Populares, que este ano teve como tema ‘Agora é a vez da vida! Semeando saúde!’, no município de Canguçu (RS).

A feira é um espaço de troca, mostra, resgate, valorização e comercialização de diversos produtos da agrosociobiodiversidade da região, oriundos de povos e comunidades tradicionais, da agricultura familiar e também de suas organizações, para proporcionar, principalmente, a integração, troca de saberes e de material genético tradicional e crioulo.

Além de povos indígenas, comunidades kilombolas e famílias agricultoras, a feira contou com um total de 147 expositores, envolvendo famílias guardiãs de sementes, mudas, produtos de agroindústrias, artesanato, além de bancas de escolas e espaços de instituições parceiras que ajudaram na construção do evento. De acordo com a organização da feira, estima-se que passaram pelo espaço, cerca de 10 mil pessoas.

Segundo Zamir Cardoso, assessor técnico do CAPA, a feira teve o diferencial de ser a segunda edição que aconteceu no centro da cidade e assim também contou com a participação de um público mais amplo, incluindo espaços urbanos, além de ter contado com uma ampla participação de representantes governamentais, tanto da esfera municipal, quanto estadual e federal, que reafirmaram o compromisso em prol da agroecologia, da produção de alimentos sustentáveis e também da preservação da agrosociobiodiversidade. “A realização desta edição da feira foi uma grande satisfação, pois foi considerada a feira da retomada, depois do período de pandemia. Essa edição proporcionou a participação mais ampla do público e mostrou a força da agricultura familiar, das comunidades tradicionais e da economia solidária, que são as pessoas que fazem a feira de sementes acontecer e que, no último período praticamente não tiveram apoio governamental. Também conseguimos contar com uma grande diversidade de culturas, de conhecimentos, de trocas de saberes e sementes, com mais de 140 expositores participando e trazendo uma grande diversidade de produtos, artesanato rural, flores e plantas, produtos agroecológicos, tecnologias populares, estandes institucionais e alimentação tradicional e é claro, os guardiões de sementes“, completa.

A feira propicia a manutenção da biodiversidade e dos conhecimentos tradicionais que estão ameaçados pela crise climática e a falta de políticas públicas e renova o seu caráter emancipador frente a projetos que querem vincular famílias agricultoras e comunidades tradicionais a empresas do agronegócio e também aos monocultivos, cada vez mais presentes e devastadores em nosso território.

Nesta edição, a feira foi organizada por 11 entidades.

X Seminário Agrobiodiversidade e Segurança Alimentar

Paralelo a 11ª feira de sementes, aconteceu, nos dias 06 e 07, o X Seminário Agrobiodiversidade e Segurança Alimentar, na sede da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), também em Canguçu. O evento promoveu diversos debates que incluíram a comercialização de sementes tradicionais, a importância da conservação da biodiversidade do Bioma Pampa, a necessidade de políticas públicas voltadas ao setor e os resultados das discussões entre representantes dos órgãos públicos e governamentais e dos movimentos que representam as famílias agricultoras e tradicionais, foram registradas num documento, a Carta de Canguçu.

Segundo a representante da CONAB, Maria Kazé, indígena auto-declarada da etnia jetcó, existem muitos interesses sobre o domínio das sementes e é fundamental que elas permaneçam na mão das famílias agricultoras e comunidades tradicionais e por isso as discussões, políticas públicas e eventos como esse são fundamentais. “Podemos ter comércio de carbono, de terra, mas não de sementes. E sabem por quê? Porque nos dá autonomia, independência para plantar, comer e compartilhar’, conclui.

De acordo com o Coordenador do CAPA Pelotas, Roni Bonow, quem preserva a sociobiodiversidade é a agricultura familiar, as comunidades tradicionais e é nessas propriedades que é possível encontrar diversidade. Mas é necessário permitir que as pessoas dos centros urbanos também acessem esses alimentos biodiversos. “O desafio é ampliar a renda das famílias agricultoras a partir do uso e da preservação da agrosociobiodiversidade, ter sistemas agroalimentares resilientes à crise climática e políticas públicas para a agricultura familiar e os povos e comunidades tradicionais e com isso, ampliar o acesso a esses alimentos”, explica.

O seminário contou com painéis que tinham como temáticas principais: A conservação da agrobiodiversidade; A comercialização de sementes crioulas; O bioma pampa e a conservação da biodiversidade; Alimentos e saúde e; Políticas públicas e as sementes crioulas – perspectivas ante uma nova conjuntura, que contou, nos dois dias de evento, com a participação de representantes de organizações das famílias agricultoras, das comunidades kilombolas, de comunidades indígenas, de escolas municipais, de FLD-CAPA, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), da Emater, da Embrapa, da Associação para Grandeza e União de Palmas (AGrUPA), da Rede de Cooperativas do RS, da superintendência do MAPA no RS, do presidente do Incra, da assessora da Conab, do assessor da Organização das Nações Unidas – Harmonia da Natureza (ONU), do Fórum da Agricultura Familiar (FAF), do MST e do MPA.

Fotos: Márcio Morales \ Rocheli Wachholz

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