Banana, beterraba, cenoura, mandioca, feijão, diversidade! A diversidade de alimentos produzida por agricultoras e agricultores de Marechal Cândido Rondon está impressionando um grupo de jovens alemães que está em intercâmbio na cidade desde o último dia 26.
A variedade de alimentos encontrada pelo grupo estrangeiro é resultado do cultivo em sistemas agroecológicos, onde o uso de agrotóxicos e adubos sintéticos foi abolido pelas famílias em nome da saúde e da qualidade de vida.
O intercâmbio com famílias agricultoras e com outras e outros jovens do Brasil têm a segurança alimentar e a sustentabilidade como temas. O projeto é realizado pelo programa Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA), da Fundação Luterana de Diaconia, e pela Juventude Rural da Baviera (ELJ), e tem apoio do governo alemão.
Outra agricultura possível
A monocultura de grãos, como soja e milho, era o que vinha à cabeça do jovem engenheiro alemão Philipp Weglehner, 23 anos, quando o assunto era a produção agrícola brasileira. Mas isso foi antes da viagem. Aqui ele está conhecendo experiências como a de Plácio e Helene Braun e a de Erci e Lorita Sonntag.
Ambas famílias agricultoras hoje produzem alimentos com o selo de certificação orgânica, onde a saúde delas mesmas, das pessoas que consomem seus alimentos, e do próprio lugar onde vivem estão em primeiro lugar. “Quando chegamos nas propriedades, na mesma região e clima das grandes monoculturas, você se sente num mundo totalmente diferente”, comentou Philipp.
A família Braun contou a Philipp, e ao grupo de jovens, o caminho que percorreu desde a saída da produção de leite em sistema integrado até a produção orgânica de banana e panificados. Neste ano, a família prevê comercializar dez mil quilos da fruta, de quatro variedades diferentes. Na visita a Erci e Lorita, o casal lembrou do período em que pensaram vender o sítio e ir morar na cidade, e de como encontraram um novo sentido à vida ao iniciar o cultivo de hortaliças orgânicas.
Na foto da esquerda, Helene e Placio Braun; na foto da direita, uma roda de conversa com Lorita e Erci Sonntag
A comercialização para merenda escolar chama atenção de jovem
A jovem alemã Lea Schweitzer, 33 anos, trabalha como assistente social com refugiados no norte da Baviera. Se ela pudesse reproduzir em seu país uma experiência rondonense para tornar mais acessíveis os alimentos orgânicos em sua comunidade, seria a da Associação Central de Produtores Rurais Ecológicos (Acempre).
Segundo ela, na Alemanha, não existe uma loja como a da Acempre, em que o preço dos alimentos agroecológicos é, em sua maioria, o mesmo dos alimentos convencionais de supermercados. Assim como também não há uma legislação em que o governo é obrigado a priorizar os produtos sem utilização de agrotóxicos da agricultura familiar. “Seria muito importante realizar isso na Alemanha também”, afirmou.
A experiência do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) no município de Marechal Cândido Rondon, regulamentada pela Lei Municipal 4904, tem sido difundida como exemplo para outros municípios brasileiros.
Aprendizado e engajamento social
Friedel Röttger, pedagogo e parte da coordenação da ELJ, ressalta que, além de acessar uma experiência única, que para muitas e muitos é a viagem de suas vidas, a juventude retorna para a Alemanha e multiplica impressões e conhecimentos da experiência vivida e se torna mais aberta para participar de causas sociais e ambientais.
“Apesar de virmos de países muito distantes, é impressionante como conseguimos trabalhar em conjunto”, destaca Friedel. Em setembro de 2022, o mesmo grupo de jovens do Brasil, que agora está recebendo a Juventude da Baviera em Marechal, esteve na Alemanha com o mesmo intuito.
A parceria entre CAPA e ELJ já tem mais de 20 anos. Na próxima semana, entre os dias 2 e 5 de abril, o intercâmbio terá continuidade no Sudoeste do Paraná, com visitas a outras famílias agricultoras que também promovem a agroecologia com apoio do CAPA.
Texto e fotos: Diangela Menegazzi