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“Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher”

                 

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“Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher”
25 de novembro de 2019 Comunicação FLD

Marcado pelo protagonismo das mulheres e das juventudes, a Rede Ecovida promoveu o seu XI encontro ampliado, com o tema Gênero, Geração e Conhecimento, de 15 a 17 de novembro, no município de Anchieta (SC), com a participação de cerca de 800 pessoas. A plenária de abertura, que teve o mesmo tema do encontro, contou com uma mesa composta por mulheres, que relataram estratégias de fortalecimento das agricultoras e das juventudes para agroecologia.

A escolha do tema para o encontro ampliado foi um avanço. “Gênero sempre apareceu como assunto de seminários, mas nunca em um encontro ampliado, e permeando todo o evento”, comemorou Janete Rosane Fabro, coordenadora da Rede Ecovida pelo Paraná. “A construção não foi fácil, mas depois desse passo, não dá para voltar para trás. Foi impactante ver a força e ouvir as vozes das mulheres”, disse.

A Ecovida conta com um GT de Gênero desde 2002, integrado por representantes dos diferentes núcleos e entidades. Algumas denúncias graves de violência contra mulheres, dentro de famílias vinculadas à Rede, fizeram com que se procurasse em documentos alguma orientação e amparo legal para essas situações. “Não encontramos absolutamente nada”, contou Janete. Foi aí que um grupo de mulheres decidiu iniciar um movimento, focando na superação da violência e em Gênero.

Nasceu assim o GT de Gênero no whatsapp, que já conta com 87 mulheres participantes. O grupo serve como espaço de articulação, de conversa, de apoio, acolhimento, e troca de informações e de experiências. Para Janete, é preciso que as violências acabem. “Não tem como falar em agroecologia se houver violência. Agroecologia é muito mais do que não usar agrotóxicos na produção”.

De acordo com Ana Carolina Dionísio, do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), diferente das mulheres urbanas, as mulheres do campo têm mais dificuldade em denunciar a violência. Elas estão distante dos serviços de atendimento e a oferta de transporte público é menor na área rural. “Outros dois fatores são a dependência financeira e a falta de informação, pois muitas vezes elas não se dão conta que estão passando por uma violência”.

Ana Carolina avalia que o desafio de manter as mulheres unidas é grande, especialmente pelo pouco apoio que há nos núcleos. “Ao mesmo tempo, existem homens colaborativos e com sensibilidade, e é fundamental que eles puxem o debate sobre o modelo de masculidade”, disse. “Uma ação muito simples é de repensar suas falas, suas piadas…fazer piadas sobre a articulação das mulheres  é machismo!”.

Para Ana Meirelles, do Núcleo Litoral Solidário da Ecovida, o encontro possibilitou que os homens tivessem acesso à informação sobre gênero e vissem a força das mulheres. “O desafio do GT de Gênero é mostrar que casos de violência contra as mulheres são tão graves quanto outras questões que envolvem a agroecologia. Sem feminismo, não há agroecologia”.

Ao final da plenária, as mulheres ocuparam novamente o palco para trazerem encaminhamentos trabalhados pelo GT Gênero ao longo do ano, que envolvem a inclusão do tópico sobre violência de gênero e outras violações de direitos humanos como passível de perda de certificado no Manual de Procedimentos. Além disso, anunciaram o requisito de que os Comitês de Ética dos núcleos, uma das instâncias da certificação participativa, devem ter uma mulher em sua composição e afirmaram a importância das mulheres das famílias participarem nas visitas e reuniões da Rede.

Também foi encaminhada a criação de um GT da Juventude, que colocou como uma de suas prioridades a inclusão da participação de 30% de jovens nas diferentes coordenações. Ainda, foi ressaltada a importância do incentivo à cultura e lazer e à comunicação pela valorização da Agroecologia, acesso à educação, formação em marketing e empreendedorismo. Por esse motivo, foi criado o GT de Arte e Cultura, com o intuito de pensar e promover místicas, músicas e momentos culturais para os eventos, contribuindo com as reflexões da Agroecologia.

A plenária aprovou a nova composição da Coordenação da Rede Ecovida, que passa a ter a participação da assessora do CAPA de Marechal Cândido Rondon (PR), Jéssica Cristovão da Silva, e do assessor do CAPA de Santa Cruz do Sul ((RS), Lauderson Holz.

A Fundação Luterana de Diaconia participou das atividades por meio da coordenadora programática, Marilu Menezes, a assistente social, Marluí Tellier e o assessor de projetos, Fernando Aristimunho. Entre as considerações que a FLD trouxe para o debate estão a necessidade de visibilizar e enfrentar todas as formas de violência contra mulher e demais violências contra Povos e Comunidades Tradicionais; a importância de promover o consumo popular dos alimentos orgânicos em comunidades periféricas; e a denúncia sobre o excesso de medicamentos veterinários usados na pecuária.

Vitor Hugo Hollas, do CAPA Erexim, propôs maior articulação com outros espaços, como fóruns de economia popular e solidária, Associação Brasileira de ONGs (ABONG), Levante Popular da Juventude, Movimento de Mulheres Camponesas, entre outros. “Podemos potencializar o debate ambiental e a agroecologia na pauta desses parceiros, e, ao mesmo tempo, inserir na Rede temas que dialogam diretamente com a defesa de direitos –“, disse.

Do CAPA, estiveram presentes: a coordenadora Ingrid Margarete Giesel, Ivo Severino Macagnan, Vitor Hugo Hollas, João Daniel Wermann Foschiera, Martin Witter, Juliana Paula Vendrame, de Erexim (RS); Augusto Weber e Lauderson Holz, de Santa Cruz do Sul (RS);  Zamir Cardoso Saraiva e Mateus Schwanz Kuhn, de Pelotas (RS); o coordenador adjunto Jhony Alex Luchmann, Jessica Cristovão da Silva, Edimar Silveira da Silva, Marco Antônio Bilo Vieira, Laís Oliva Biletski, Valdeilson Ferreira de Almeida, Marcia dos Santos Fagundes, Kelly Cristine da Conceição e Raquel Rossi, de Marechal Cândido Rondon (PR); a coordenadora Talita Slota Kutz, Decio Alceu Cagnini, Diego Sigmar Kohwald, Larissa Simão e Silvonei Jose Pontes, de Verê (PR).

O CAPA participou da Feira de Saberes e Sabores e promoveu as oficinas de Produção de Mudas, com Talita, Larissa e Décio, e de Avicultura Colonial, com Silvonei, e Felipe Grisa, da Assesoar.

Uma homenagem especial foi feita a Ivo Macagnan, do CAPA Erexim, que integra a Coordenação da Rede Ecovida e que se aposenta no final do ano. Ivo trabalha há 19 anos no CAPA e contribuiu com a Rede Ecovida desde quando ainda era PTA-Sul. “Eu não esperava, e agradeço muito aos grupos a quem assessoro, ao CAPA e à Rede”, disse.

Encontro Ampliado

O Encontro Ampliado é o evento máximo da Rede Ecovida, momento onde as pessoas dos diferentes núcleos são convidados a participar de amplo espaço de troca de experiências e tomada de decisões para o futuro. O encontro ocorre ordinariamente a cada dois anos, em diferentes lugares, alternando entre os três estados do Sul, onde delegações de cada Núcleo reúnem-se para aprofundar temas correlatos à Agroecologia.

É nesse espaço que acontecem as principais discussões políticas e a Assembleia –para a homologação da criação de núcleos, eleição da Coordenação Geral e decisão sobre questões remetidas pelas plenárias anteriores.

Fundação Luterana de Diaconia, com informações da CepagroFotos: Cepagro

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