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Jovem agricultora participa da 56ª CSW em Nova Iorque
27 de fevereiro de 2012 zweiarts
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Daniele Peter, do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, está participando em Nova Iorque, EUA, da 56ª Sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (Comission on the Status of Women/CSW), que acontece de 27 de fevereiro a 9 de março.

Este ano, o tema do encontro são as mulheres rurais. Reúne representantes de governos, das Nações Unidas, da sociedade civil, da mídia e do setor privado com mulheres agricultores de diversos países. O objetivo é rever progressos, partilhar experiências e boas práticas, analisar desafios e acordar sobre prioridades para acelerar a implementação da Plataforma de Ação definida na 4ª Conferência Mundial sobre Mulheres, realizada em 1995, em Beijing, na China.

O foco da Comissão sobre a Situação da Mulher em 2012 é o empoderamento das mulheres agricultoras e seu papel na erradicação da pobreza e da fome e na promoção do desenvolvimento. Entre os diversos grupos de organizações de mulheres presentes na sessão, está o grupo de Mulheres Ecumênicas, onde Daniele, do Brasil, e Jeannete, de Camarões, representam a Federação Luterana Mundial (FLM). As duas foram responsáveis, junto com outras mulheres que trabalham naEvangelical Lutheran Church in America (ELCA), por um evento paralelo à comissão, intitulado “De um potencial empobrecimento a sementes de sustentabilidade”. Daniele apresentou sua história de vida e o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA), onde trabalha:

“Sim, a vida é mulher” – Nietzsche

Meu nome é Daniele Schmidt Peter, tenho 25 anos e sou natural de uma pequena comunidade no sul do Brasil chamada Remanso – que significa um lugar calmo, um lugar para descansar e relaxar. Meus pais são pequenos agricultores, descendentes de pomeranos da Alemanha. Eu sou a terceira de seis filhos, três meninas e três meninos.

Em nossa região, a economia é baseada na agricultura. Os agricultores possuem propriedades muito pequenas de terra.

Começo realçando a relação histórica entre as mulheres e agricultura. Alguns escritores dizem que as mulheres são as criadores da agricultura. Que foram as mulheres que descobriram que as pequenas sementes que eram trazidas nas roupas que os homens usavam para caçar, que estas sementes, quando colocadas no chão, brotavam e produziam vida. Além disso, as mulheres são as principais responsáveis pela produção de alimentos na agricultura – na América Latina isso significa mais de 50%.

Depois de uma história de produção de alimentos, com a Revolução Verde, o crescimento do agronegócio e o uso da terra sem cuidado, esta terra não estava produzindo mais. Assim, foi muito fácil para as grandes empresas entrarem e introduzirem tabaco para esses agricultores, devido à sua fácil adaptação e forma de produção. Isto também afetou minha família, que começou a trabalhar com o tabaco, fazendo isso por sete anos.

Em vista de tudo isso, em 1978 a IECLB, com apoio da EED, iniciou o projeto de uma nova forma de agricultura em nossa região: a agroecologia ou agricultura ecológica, produção de alimentos sem agrotóxicos e produtos químicos, tendo o cuidado da natureza, produzindo com diversidade. Este projeto é chamado CAPA em Português – Centro de Apoio ao Pequenos Agricultor, hoje vinculado à Fundação Luterana de Diaconia.

Assim, desde 1998, minha família começou a produzir alimentos ecológicos, vendendo diretamente para o mercado e para às cooperativas de agricultores. Até os 20 anos eu estive trabalhando com os meus pais na propriedade. Depois disso, para continuar meus estudos, mudei para a cidade.

Com esta história, encontrei no CAPA uma oportunidade para trabalhar e ajudar outras famílias a encontrar uma maneira de continuar vivendo e trabalhando na agricultura, produzindo alimentos, e um jeito de ajudar outras mulheres a descobrir a riqueza do seu trabalho. Encontrei também no trabalho do CAPA uma forma de mostrar a outros jovens que viver na zona rural é realmente uma benção, onde você pode ter qualidade de vida e soberania alimentar.

Desde 2007, eu trabalho no CAPA. Além de outras atividades, hoje eu sou assessora de um projeto que o CAPA tem com o Governo Federal do Brasil.

O objetivo do CAPA é a construção de uma agricultura sustentável, com segurança alimentar, ajudando os pequenos agricultores na luta por seus direitos. O CAPA desenvolve atividades nas áreas de desenvolvimento sustentável, de segurança alimentar, com um forte foco na construção de espaços de diálogo e experiências de transformação social. Também, nas áreas de construção de alternativas de geração de renda e oportunidades para as mulheres e jovens agricultores. O trabalho baseia-se também no respeito ao conhecimento que os agricultores carregam com eles ao longo das gerações e são realmente importantes frente a proteção de sementes nativas e para a agricultura em geral.

No CAPA, trabalhamos com uma diversidade famílias: os quilombolas – descendentes de escravos, os sem-terra, os pequenos agricultores descendentes de pomeranos. Ajudamo-los a superar as dificuldades, para trazer-lhes esperança e acesso aos seus direitos através da organização e do trabalho conjunto.

Quando a igreja luterana trouxe a ideia da agricultura ecológica, as mulheres acreditaram nessa nova possibilidade. Em muitas comunidades e famílias, a prática da agricultura ecológica começou a partir do trabalho das mulheres em pequenas hortas, cultivando de alimentos sem veneno só para a família, enquanto o resto da família ainda estava trabalhando na produção do tabaco.

Esta é também a minha história, a história da minha mãe, a história das minhas irmãs.

O CAPA está trabalhando para a inclusão dos pequenos agricultores e a afirmação das mulheres em particular. A agroecologia tem como objetivo a sustentabilidade da propriedade com base na qualidade de vida e inclusão de todos os membros da família. Portanto, não há uma propriedade sustentável ou uma agricultura sustentável sem a inclusão das mulheres. Estas mulheres, que eram invisíveis ao longo do tempo, são agora protagonistas no desenvolvimento de cooperativas, na gestão das propriedades, na produção e venda de seus produtos. As mulheres conquistaram seu espaço, reconhecendo a importância do seu trabalho para a segurança alimentar de suas famílias e grupos, o conhecimento dos cuidados de saúde e a proximidade de seu trabalho com as práticas de agroecologia.

As mulheres estão combatendo a fome e a pobreza através da produção de alimentos orgânicos e através da agricultura sustentável com base no cuidado com a natureza, uma prática que ao longo do tempo foi sendo esquecida. Através da agroecologia, as mulheres começaram a apreciar o seu trabalho e a reconhecê-lo, começaram a se organizar em grupos, cooperativas e redes de solidariedade, permitindo a capacitação e fortalecimento de seu trabalho, também através da venda direta dos produtos aos consumidores por um preço justo . As mulheres quilombolas também encontraram a sua independência através da renda obtida com a venda de seus artesanatos.

Hoje, as mulheres apoiadas pelo CAPA são capacitadas para liderar grupos, e estão na coordenação de cooperativas e associações, trabalhando em sua propriedade em igualdade com os homens e tê acesso a recursos importantes para o desenvolvimento de suas atividades.”

Fotos: Divulgação

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