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Em respeito à história da agroecologia brasileira e de Pernambuco
4 de fevereiro de 2016 zweiarts
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Recife (PE) – O programa de televisão Fantástico do dia 31 de janeiro, último domingo, mostrou uma reportagem em que aparecem diversas pessoas que vendem produtos envenenados se passando por agricultores orgânicos. O tema é atual e relevante, mas a reportagem falha gravemente quando não valoriza a importância do trabalho de milhares de famílias agricultoras que diariamente produzem alimentos de verdade e de qualidade para a população brasileira, dos campos e das cidades.

O fato é que a reportagem deu destaque a uma prática desonesta na venda de produtos orgânicos, mas não abordou os/as milhares de agricultores e agricultoras brasileiras dedicadas à produção agroecológica, que atuam além da produção de alimentos saudáveis, contribuindo para a conservação dos solos, das águas, e da biodiversidade. Sem dúvidas uma fiscalização mais eficiente é necessária, mas é importante que essa denúncia e as investigações sejam feitas pelos órgãos competentes de maneira a não gerar confusão para as pessoas e não sejam prejudicados aqueles que atuam no campo de maneira séria, sem usar agrotóxicos e investindo numa agricultura que é a saída para uma alimentação saudável. As feiras orgânicas e agroecológicas são importantes equipamentos públicos de abastecimento alimentar nas cidades, uma alternativa aos produtos envenenados de grandes produtores vendidos em supermercados, e não devem ser criminalizadas pelos atos irresponsáveis de uma minoria.

Foi notório também o desequilíbrio de conteúdo e de contexto da matéria do Fantástico. Faltou ouvir e apresentar a posição de inúmeras Redes, Fóruns, Articulações, Associações, ONGs, entidades de assessoria técnica e principalmente famílias agricultoras agroecológicas e orgânicas do país que trabalham com ética, respeito e principalmente compromisso com a saúde e a vida de quem consomes seus produtos. Há anos organizações como a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), a Rede Ater Nordeste, a Rede de Agroecologia da Mata Atlântica, a Rede de Agroecologia de Pernambuco e núcleos de estudos e pesquisa em Agroecologia, como o Núcleo de Agroecologia e Campesinato – NAC e o Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas em Agroecologia no Semiárido – NEPPAS/UFRPE, trabalham para promover e tornar público uma forma de produzir alimentos e gerar desenvolvimento sustentável no campo respeitando a natureza e a saúde das pessoas, a Agroecologia.

Esperamos sim que o Ministério da Agricultura e os órgãos competentes invistam e melhorem sua atuação na fiscalização. Além disso, é preciso que nossa legislação seja modificada, para que se proíbam agrotóxicos já banidos em outros países, evitar o contrabando de agrotóxicos existente nas nossas fronteiras e para os agrotóxicos deixarem de ter isenção de ICMS, como acontece em muitos Estados brasileiros, assim como seja banida a transgenia do Brasil. É importante lembrar que o PRONARA – Programa Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos, construído com propostas de órgãos do Governo e movimentos sociais, já foi aprovado na Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) e espera a adesão do Ministério da Agricultura desde meados de 2015 (dos 10 Ministérios envolvidos, o único que falta aderir), para que seja regulamentado e, em seguida, colocado em prática efetivamente.

A matéria comete outro erro ao não dizer o nome da feira retratada no Recife, tratando-a apenas como “a feira de produtos orgânicos mais antiga do Recife”. Pelas imagens, mesmo para os recifenses, é muito difícil perceber em qual feira a reportagem esteve. É de conhecimento público, no entanto, que a feira das Graças da Rede Espaço Agroecológico é a mais antiga do Recife que vende produtos orgânicos (Como se pode comprovar pelas reportagens, publicadas em 2015 pelos dois maiores jornais de Pernambuco: http://bit.ly/1TwOwjM e http://bit.ly/1KShMub), no entanto não foi ela a ser retratada na matéria.

Pela grande audiência do programa dominical, o erro de informação se torna praticamente impossível de ser sanado sem um direito de resposta na TV Globo, com o mesmo tempo de exibição e na mesma faixa de horário e programa.

Os agricultores e agricultoras, seus movimentos e suas organizações que constroem cotidianamente a Agroecologia e a Produção Orgânica deste país certamente se envergonham ao ver esta reportagem, mas é preciso ressaltar que a maioria trabalha consciente e comprometida com a mudança de vida, que beneficia agricultores, agricultoras e a população das cidades e por isso repudiamos qualquer tentativa de igualar essa construção à práticas desonestas. Temos orgulho em fazer parte da história de construção da Agroecologia e de práticas como as Feiras Agroecológicas e Orgânicas que valorizam a soberania e a segurança alimentar das pessoas, gerando qualidade de vida e saúde, protegem os bens naturais, e que se baseiam em uma economia solidária e numa relação harmoniosa entre o campo e a cidade.

Fonte: Centro Sabiá

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